Hábitos

Em época de recomeço de actividades, onde vemos inúmeras pessoas afluir aos dojos, indo pouco depois desistindo. Para daqui a um ano recomeçarem uma outra actividade na mesma época, e depois voltarem a desistir... relembro que

Primeiro criamos os nossos hábitos,

mais tarde esses hábitos criam-nos a nós.

É difícil desligarmos de certos hábitos, normalmente facilitadores de uma ilusão cansada. Mas ainda mais difícil, é impormo-nos novos hábitos e aplicá-los ao dia a dia, de forma a que estes usos façam parte integrante da nossa vida. Do nosso ser.

Sem percebermos, os hábitos que temos (e temo-los todos) formatam-nos espiritual e fisicamente. Indo até influenciar quem nos rodeia, no trabalho, na família.

Já que somos animais de hábitos, o melhor é tomar atenção.

Viver o presente, é a melhor maneira de o fazer...

Nascer

Quem estuda Artes Marciais recebe um e apenas um cinturão: o branco.

Observando o Sensei e os senpai, pensando com a cabeça e agindo em consequência com o corpo vamos treinando com insistência, labor e esse cinto vai-se usando, ficando creme, acastanhado, cinzento e por fim quase preto.

Ao atingirmos o estatuto dos cinturões negros, há muitos que descansam sobre a ilusão quando na realidade alguns percebem que é chegados a esse ponto, que o verdadeiro estudo se inicia.

Então baixam a cabeça e redobram o esforço no treino, compreendem que à reflexão mental se propõe a separação do corpo, e ao corpo de agir por si só. Na tentativa de separar o corpo do espírito aplicam-se mais ainda para continuar a aprender e sem repararem o seu cinturão preto vai se usando, desfazendo fio após fio, perdendo o negro ostentatório e recuperando os tons esbranquiçados.

No completar deste ciclo, do branco ao negro e do negro ao branco, reside a essência da Via.

ps- cuidado com as falsas humildades. O cinturão é a nossa alma, e não uma banda de tecido enrolada em torno do Hara.

BOM CAMINHO

O Outono aproxima-se e com ele o recomeçar dos treinos, do esforço e camaradagem, do caminhar no sentido da Via.

A todos os votos de um bom recomeço. A quem não parou realmente, uma boa continuação...

Porque corres tu?

Certo dia ao entrarem num albergue, depararam com um quadro pendurado na parede, ilustrando uma cena campestre onde por entre o arvoredo uma raposa tenta caçar um coelho. O discípulo deixou escapar: vê-se mesmo que é a raposa a ganhar. Ao que o seu mestre retorquiu "não sei, não".
- Como não sabe? Então a raposa não é mais rápida que o coelho?
- É. - respondeu.
- Não há dúvidas então, que a raposa o apanha.
- Eu mantenho sempre dúvidas até ao fim de cada história.
- E porque duvida, Mestre?
- Porque cada história pode ter o seu desfecho, e nesta a raposa corre para apanhar o seu jantar, enquanto que o coelho corre para salvar a sua vida...

Pergunto de novo: porque corres tu (eu) ?